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A
Parashat Nôach começa ao descrever o caráter elevado de Nôach (Noé) que
contrastou com a perversidade. Como resultado da maldade do ser humano, D'us
envia um dilúvio para destruir todas as criaturas vivas, poupando apenas
Nôach, sua família, e pelo menos um par de cada espécie de animal, que vivem
na arca durante o prolongado dilúvio.
Quando
as águas refluíram, quase uma ano após o início das primeiras chuvas, Nôach
envia um corvo e uma pomba, para determinar se a terra está suficientemente
seca para que possam deixar a arca e estabelecer-se na terra novamente. D'us
promete que jamais destruirá a humanidade novamente por um dilúvio, e designa
o arco-íris como um sinal deste pacto eterno.
Nôach
planta uma vinha, bebe de sua produção, e embriaga-se. Neste estado de
intoxicação, vergonhosamente desnuda-se em sua tenda. Embora seu filho Cham
lide de maneira inadequada com o pai, os outros dois filhos de Nôach, Shem e
Yefet, cobrem o pai de maneira respeitosa. Quando fica sóbrio, Nôach reage
abençoando Shem e Yefet, e amaldiçoando Cham e seu filho Canaan.
Passam-se
as gerações e o mundo é repovoado. O povo tenta empreender uma guerra contra
D'us construindo a Torre de Babel, e D'us reage misturando os idiomas e
dispersando as pessoas por todo o planeta.
A
porção da Torá conclui com uma nota encorajadora, o nascimento de Avraham,
Abraão, e seu casamento com Sara.
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"E de todo o vivo, de toda a criatura, dois de tudo, trarás à arca..."
Com esta
instrução, Nôach é ordenado a preservar cada espécie que existia sobre a terra.
Embora esta certamente pareça ser a coisa certa a ser feita, parece também ser
uma tarefa impossível. Com as dimensões da arca limitadas a proporções
relativamente modestas, parece altamente improvável que todos os animais
encontrassem espaço na embarcação. Como, então, esperava-se que Nôach pudesse
cumprir tal ordem?
Felizmente,
Nôach não precisava se preocupar. Como o grande Ramban explica, as medidas da
arca, embora de acordo com as leis da natureza, de maneira alguma poderiam
abrigar todas as espécies existentes na terra, D'us neste caso suspendeu estas
leis, de forma a preservar Sua criação. Com este milagre, cada animal tinha
amplo espaço dentro da arca.
Entretanto,
imediatamente nos deparamos com outra dificuldade: como a necessidade de um
milagre parece inevitável, por que D'us deu a Nôach instruções tão precisas
sobre medidas e outros detalhes da arca? Por que fazer Nôach se dar tanto
trabalho? Por que não permitir a Nôach que construísse uma simples jangada
feita de duas pranchas de madeira?
Uma vez
mais, o Ramban fornece a solução. Embora um milagre fosse realmente necessário
para o bem de todos aqueles animais aguardando para entrar na arca, o Criador
desejava "minimizar" aquele milagre do modo que fosse possível. Sendo
assim, Ele instruiu Nôach a construir um navio grande e sólido que pudesse ao
menos suportar muitos dos animais. Apenas após a real capacidade da arca ter
sido preenchida, D'us suspenderia as leis da natureza para criar amplo espaço
para os animais remanescentes.
Claramente,
esta explicação fornece uma lição óbvia. Como o próprio Ramban declara, o
Criador não deseja que confiemos apenas em milagres. O homem não pode
simplesmente sentar-se e esperar que D'us preencha todas suas necessidades. Ao
contrário, a pessoa deve trabalhar e lutar para atingir seu objetivo. Apenas
depois de a pessoa poder dizer honestamente: "Fiz tudo aquilo que
podia," lhe é permitido esperar que D'us mude as regras.
Entretanto,
parece haver uma mensagem mais profunda contida na explicação do Ramban.
Rabeinu Bachya ensina que: "D'us criou o mundo para funcionar de acordo
com as leis naturais do universo." Quando olhamos para o mundo, nada
notamos de especial à primeira vista, apenas as mesmas velhas plantas, árvores
e outras entidades funcionando normalmente. Sem lhes conceder um pensamento
mais demorado, o mundo parece tedioso e mundano. A ordem natural do universo
não desperta uma centelha de entusiasmo dentro de nós. Apenas quando nos
detemos a examinar o universo mais detalhadamente é que o mundo ganha novo
significado.
O ciclo
de vida do ser humano, as obras do cosmos, o relacionamento entre os animais e
seu ambiente - todos mostram a beleza, as maravilhas e a magnificência da
natureza. Os cientistas continuam a se maravilhar ante a precisão e a exatidão
com a qual o mundo funciona.
De
repente, aquelas leis que pareciam tão sem sentido há um momento, agora
inspiram um senso de reverência para com as criações de D'us. Por isso, Ele
deseja manter a ordem natural do mundo sempre que possível. Suspender as leis
da natureza seria introduzir um elemento de caos na espetacular e sensacional
harmonia do mundo existente.
Muitas pessoas se perguntam por que Ele não realiza milagres para nós
hoje em dia. A resposta não se encontra em um complicado argumento filosófico,
mas num simples abrir de olhos a um mundo totalmente novo, pois os milagres
acontecem todos os segundos de todos os dias, bem à nossa volta.
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